Panorama das Unidades de Conservação no Rio Grande do Sul e relevância socioambiental da criação de uma nova área protegida no município de Farroupilha

Abstract

Frente aos avanços da urbanização e consequente diminuição de áreas verdes faz-se necessário que as áreas legalmente protegidas recebam a atenção necessária, assim como novas áreas sejam criadas. Este trabalho realizou um panorama das Unidades de Conservação (UC) do estado do Rio Grande do Sul, por meio dos bancos de dados oficiais (Cadastro Nacional de Unidades de Conservação e Sistema Estadual de Unidades de Conservação) e da revisão do estudo realizado por Backes no ano de 2012, resultando em 126 UCs, que juntas representam 2,65% do território continental e 0,29% da zona costeira e marinha protegidas. Neste sentido, e diante da Proposta para Criação de Unidade de Conservação no Parque Santa Rita, elaborada em 2019 pelo município de Farroupilha, no Rio Grande do Sul buscou-se entender a relevância socioambiental da poligonal indicada pelo município, por meio de estudos e análise da diversidade florística presente na área e aplicação de um questionário online para a população, onde estes puderam demonstrar o conhecimento acerca da proposta e expressar a sua opinião sobre o futuro do local. O questionário, aplicado em janeiro 2023, dispôs de 18 alternativas entre abertas e fechadas e teve a participação de 162 pessoas, onde em sua grande maioria (91,70%) acham correto proteger o local que um dia abrigou o Balneário Santa Rita, hoje Parque Santa Rita. Nos levantamentos florísticos realizados na área, entre setembro de 2022 e abril de 2023, através do método dos quadrantes (20 parcelas de 100m2 ), foram inventariados 449 indivíduos, correspondendo a 52 espécies. Com base na frequência absoluta (FA), foi observada a predominância de chal-chal, Allophylus edulis (A.St.-Hil. et al.) Hieron. ex Niederl (FA = 85%), seguida por araucária, Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze (FA = 70%), e ligustro, Ligustrum lucidum W.T. Aiton (FA = 35%), espécie exótica originária da Ásia. Em adição à araucária, classificada como “Em Perigo” (EN) na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção, merece também destaque a presença na área de outras seis espécies da flora ameaçadas de extinção, incluindo o xaxim, Dicksonia sellowiana Hook, e a canela, Cinnamomum triplinerve (Ruiz& Pav.) Kosterm, classificadas como “Em Perigo” (EN) nas listas oficiais nacional e estadual, respectivamente. Além disso, a área abriga um importante manancial de água, incluindo a Barragem da Julieta, que abastece o município. A área contempla ainda uma Terra Indígena Pó Nãnh Mág, pertencente à etnia Kaingang. Com base nos resultados encontrados, em combinação com estudos prévios, é evidente a relevância ambiental da área e a importância da criação de uma unidade de conservação. Dentre as categorias existentes no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) são sugeridas a categoria Parque e Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE). Contudo, a categorização da área necessita ainda ser avaliada em maior detalhe em função da presença indígena. Com o intuito de apresentar para a comunidade as conclusões do estudo, elaboramos uma cartilha online chamada “Descubra o Santa Rita” que abriga informações sobre o local, os resultados da pesquisa com a população e uma proposta de zoneamento, que indica as atividades possíveis em cada zona, demonstrando assim a compatibilidade existente entre atividades de turismo na natureza e educação ambiental com a conservação da biodiversidade.