Os Campos de Altitude são campos de grandes extensões que ocorrem entre o Paraná e o norte do Rio Grande do Sul e alguns locais da Serra do Sudeste. Esses campos são historicamente utilizados para a criação de gado bovino e recentemente para silvicultura e agricultura. Os campos possuem alto número de espécies endêmicas e/ou ameaçadas de extinção, e uma comunidade de aves de rapina que compreende aproximadamente 35% das espécies encontradas no estado gaúcho. Algumas destas espécies são exclusivas de áreas abertas, não tolerando modificações na composição de seu ambiente e dependentes de extensas áreas de campos para sobreviverem. O objetivo deste estudo foi verificar a composição da comunidade de aves de rapina diurnas frente ao cenário de modificações que vem ocorrendo na utilização do solo em São Francisco de Paula, RS; além de analisar a situação atual da águia-cinzenta (Urubitinga coronata), ave de rapina de grande porte ameaçada de extinção. Realizamos o estudo no município de São Francisco de Paula/RS, entre agosto/2018 e junho/2019 em 12 pontos amostrais compreendendo quatro ambientes: campos nativos em Unidades de Conservação (GPA), campos nativos com pecuária extensiva (GEL), áreas de agricultura (AGR) e áreas de silvicultura (SIL). Realizamos as observações sazonalmente e amostramos as aves de rapina utilizando o método de ponto fixo, totalizando diariamente 6 horas de observações. Em relação a águia-cinzenta, compilamos todos os registros existentes no RS para elaboração do mapa de distribuição da espécie e avaliamos a extensão dos campos disponíveis na área de ocorrência atual (site MapBiomas). Registramos 1.582 aves de rapina (17 espécies e três famílias) em 288 h de amostragem. Observamos a maior riqueza nos campos nativos em Unidades de Conservação e o maior número de registros nos campos nativos com pecuária extensiva. As áreas de silvicultura apresentaram menor riqueza e número de registros, indicando que a substituição de campos especialmente por monoculturas de Pinus afeta negativamente a comunidade de rapinantes diurnos, com redução aproximada de 50% das espécies. Em relação a águia-cinzenta, constatamos que sua distribuição é restrita aos Campos de Altitude no Estado, e os campos, seu ambiente preferencial, estão sendo substituídos rapidamente por monoculturas agrícolas e plantios comerciais de Pinus, podendo comprometer suas populações no futuro.