dc.description.abstract |
O neoextrativismo é um fenômeno emergente na América Latina que marca uma nova
dinâmica de acumulação do capital, tendo como características elementares a lógica de
crescimento econômico baseada na apropriação dos bens naturais e dos territórios e com forte
protagonismo do Estado. Nesse contexto, o avanço vertiginoso do cultivo da soja no Bioma
Pampa, especialmente na última década, é uma das faces da rota de capilarização das
fronteiras produtivas do regime neoextrativista. Em cenários onde eclodem processos
extrativos, são exacerbadas as problemáticas sociais preexistentes, nas quais, grupos sociais
historicamente invisibilizados e subvalorizados enfrentam as principais repercussões
decorrentes deste modelo de superexploração que se reinventa ao longo dos séculos.
Considerando que são as mulheres negras, camponesas, indígenas e trabalhadoras e dos
setores populares as que carregam sobre si a maior carga de trabalho doméstico e produtivo,
foi a partir delas que emergiu as organizações feministas comunitárias. Tendo suas
experiências e vivências como parte das resistências e construções populares, essas feministas
abordam o termo do território corpo-terra para investigar as violências cometidas sobre os
territórios e consequentemente sobre os corpos das mulheres. Além disso, reivindica-se a
defesa, recuperação e emancipação dos territórios corpo-terra para que seja garantido um
espaço concreto onde a vida se manifesta plenamente. Diante do exposto, o trabalho objetiva
analisar as repercussões ocasionadas pelo neoextrativismo da soja no Bioma Pampa mediante
o horizonte do território corpo-terra, além disso, investiga como se configuram os processos
de resistências engendrados pelas mulheres contra a soja. Para isto, usufruiu-se da abordagem
de pesquisa classificada como qualitativa, adotando como procedimentos a pesquisa de
campo, somando-se à pesquisa bibliográfica do tipo descritiva e exploratória. Concernente aos
procedimentos, foi realizada pesquisa bibliográfica e coleta de dados por meio de entrevistas
semiestruturadas, realizadas via plataformas digitais devido à pandemia de COVID-19, e,
fontes secundárias. A organização dos dados foi realizada por meio do software NVivo, já a
técnica de análise de dados adotada foi a análise de discurso. Como resultados levantou-se
que as repercussões da vertiginosa expansão da soja sobre o Pampa são ambientais, sociais,
culturais e econômicas, sendo que, visualiza-se uma inter-relação entre as problemáticas que
incidem sobre o território-terra e aquelas que recaem sobre o território-corpo das mulheres.
Quanto aos processos de resistência engendrados pelas mulheres, levantou-se que esses se
expressam nos modos de vida, como uma resposta as questões que as atravessam
cotidianamente. Processos de resistências diretas contra a soja não são difundidos,
salvaguardam-se casos em que localmente o enfrentamento foi direto. Por fim, é essencial
ressaltar que a soja tem levado a uma deterioração da qualidade ambiental, ao apagamento de
práticas culturais, tem erodido sociabilidades e está promovendo o crescimento econômico
que contempla uma minoria que se beneficia dessa dinâmica do capital. Dessa forma, a
organização de frentes de resistência populares é urgente e indispensável para que a
emancipação dos territórios pampeanos ocorra. Nesse processo de construção coletiva a longo
prazo, defende-se também a emancipação das mulheres e ressalta-se suas potencialidades
enquanto agentes de transformação e articuladoras de resistências. |
|