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A região costeira do sul do Brasil é altamente produtiva com destaque para a atividade pesqueira local, o que tem sido explicado historicamente pela influência de grandes plumas estuarinas, como da Laguna dos Patos e Rio da Prata. Recentemente, o papel da fertilização pela descarga de águas subterrâneas (DAS) tem sido apontado como um potencial componente à produtividade costeira. A DAS ocorre em valores expressivos na região (alcançando 83,8 ± 3,8 m³ m-1 d-1), alterando condições, como salinidade e temperatura, e transportando nutrientes do continente para a zona de arrebentação, tais como silicato e ferro. Estes elementos apresentam potencial impacto sobre comunidades biológicas costeiras, entre elas o zooplâncton, um importante grupo de organismos heterotróficos do plâncton. Desta forma, o presente estudo tem como objetivo investigar o papel da DAS na variação temporal do zooplâncton marinho na zona de arrebentação no sul do Brasil e se esta variação está relacionada à DAS. Foram avaliadas a densidade e composição do zooplâncton, bem como a DAS durante 25 semanas consecutivas entre setembro de 2019 e março de 2020. A quantificação de DAS se deu através do geotraçador radônio (²²²Rn) em análise feita com o monitor RAD-7 (Durridge Inc.). A coleta do zooplâncton foi efetuada por meio de filtragem (150-200 litros) através de malha de 200 μm. Com relação aos parâmetros ambientais, as semanas dividiram-se em dois períodos (P) distintos: P1 (semanas 1-13) e P2 (semanas 14-25). O P1 foi marcado por amostras da primavera, com menor temperatura e apenas um grande pico de DAS, enquanto que o segundo período foi marcado pelas amostras do verão, com maior temperatura e presença de vários picos de DAS, porém de menor intensidade. A quantificação do zooplâncton resultou em 65.331 indivíduos ao todo, que após a identificação foram agrupados em 21 taxa. Os grupos mais representativos em termos de densidade foram da Ordem Noctilucales (135.228 org m--³), seguido da Ordem Calanoida (59.393 org m--³) e da Superodem Diplostraca (27.792 org m--³). A abundância relativa dos grupos de zooplâncton variou ao longo das semanas ao longo dos dois períodos, principalmente pela dominância de Noctilucales, Diplostraca, Mysida e Amphipoda em P1 e Calanoida e Salpida em P2. Os grupos Calanoida e Aphragmophora foram os que apresentaram maior frequência de ocorrência (100%), seguido dos Pteropoda e Cyclopoida, ambos com 96 %. Embora a DAS não tenha apresentado associação direta com a densidade total zooplanctônica, diversos grupos do zooplâncton foram correlacionados à DAS com atrasos temporais (lags) de uma até seis semanas, sugerindo a associação indireta possivelmente através do crescimento do fitoplâncton promovido pela fertilização via DAS. Parâmetros abióticos potencialmente afetados pela DAS, tais como temperatura e salinidade tiveram associação significativa com o zooplâncton. Este é o primeiro estudo a relacionar o efeito da DAS a potenciais efeitos no zooplâncton da zona de surfe de praias arenosas, sugerindo que esta fonte relativamente negligenciada de nutrientes pode ter repercussões ecológicas em ambientes costeiros onde esse fenômeno é recorrente. |
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