Resumo:
O Pampa ocupa 68,8% do estado do Rio Grande do Sul, abrangendo a sua metade meridional.
A norte, limita-se com a Mata Atlântica e a oeste com o Chaco e as Estepes da Patagônia. Sua
diversidade é reconhecida pelas variações fisionômicas, por vezes sutis ou mais evidentes, em
função das mudanças climáticas ao longo das estações do ano e pelo manejo pastoril.
Diferentes fisionomias são distinguidas no Pampa: campos de barba-de-bode, campos de
solos rasos e solos profundos, campos de areais, vegetação savanóide, campos do centro do
estado e campos litorâneos. Levantamentos florísticos e fitossociológicos no Pampa são ainda
necessários, a fim de alcançar estimativas mais concretas da riqueza de espécies e também
obter informações sobre adaptações das espécies, estrutura e o estado de ameaça de diferentes
tipos de comunidades, que servem como base para esforços de conservação. Dentre os grupos
vegetais pouco estudados no Pampa encontram-se as briófitas, com apenas cinco
levantamentos florísticos específicos na região. O objetivo deste estudo foi elaborar um
checklist de briófitas do Pampa brasileiro e realizar um diagnóstico da riqueza e importância
das espécies na conservação do Pampa e, por fim, disponibilizar uma ferramenta para
educação ambiental (jogo digital) que caracteriza de forma geral o bioma e as fitofisionomias
que o compõe, além de apresentar algumas espécies de briófitas. Para o checklist foram
compilados dados de literatura em bases de dados e repositórios online. São reconhecidas 318
espécies de briófitas, sendo 216 musgos, 99 hepáticas e três antóceros. As espécies são
tolerantes à luminosidade, preferem ambientes úmidos, mas com grande capacidade de tolerar
pouca umidade e a maioria ocorre em troncos vivos (corticícolas). Dentre as características
reprodutivas, o sistema sexual é monóico ou dióico, predominando a reprodução sexuada. No
entanto, é comum a reprodução assexuada com produção de gemas, facilitando a adaptação à
baixa umidade e o estabelecimento no ambiente. Predominam espécies com esporos
pequenos, facilitando a dispersão. Quanto às características morfo-adaptativas, predominam
as espécies com papilas, costa e células alares, adaptações ligadas à disponibilidade de água.
Ocorrem próximas a trilhas (235 espécies) e à beira de matas (231 espécies), em diferentes
formas de vida, sendo predominantes os tufos (95 espécies), seguidos pelas formas de tramas
(61 espécies), talosas (60 espécies) e tapetes (57 espécies). Oito espécies registradas para o
Brasil ocorrem somente no Pampa, porém somente Fissidens acacioides var. brevicostatus
(Pursell et al.) Pursell é endêmica deste bioma. Com base na Lista Vermelha da Flora
Ameaçada de Extinção no Estado do Rio Grande do Sul, constatou-se que sete espécies estão
listadas com algum grau de ameaça. As diferenças entre as fitofisionomias encontradas no
Pampa permitem a ocorrência de espécies tolerantes e adaptadas a variadas condições
ambientais, porém a biodiversidade do bioma é ameaçada principalmente por eventos como a
monocultura. É importante o aumento de estudos da brioflora do Pampa, visando à
conservação do bioma, dos diferentes habitat e maior compreensão de suas adaptações.