Resumo:
A construção civil é mundialmente reconhecida como um dos segmentos industriais que mais
consome recursos naturais. Da mesma forma, é uma das maiores geradoras de resíduos sólidos
do mundo: em torno de 50% dos resíduos gerados vem da construção e demolição. Embora se
saiba que os Resíduos da Construção e Demolição (RCD) possuem um percentual de 83% de
reaproveitamento, no Brasil, somente 21% desses resíduos são reaproveitados. Grande parte
dos RCDs é enviada para destinações ambientalmente inadequadas, tais como lixões, terrenos
baldios, entre outros. Trata-se do resultado da falta de um plano de gestão integrada dos
municípios com base na Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) e na Resolução do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) número 307. Neste sentido, esta pesquisa
se propôs a desenvolver blocos de concreto com agregados reciclados da construção civil,
visando ao reaproveitamento desse material pelo seu potencial e por sua relevância ambiental,
social e econômica a fim de proporcionar novos campos de trabalho. A pesquisa foi embasada
a partir da parceria realizada com uma usina de resíduos inertes localizada na região
metropolitana de Porto Alegre/RS. Após coleta e identificação dos resíduos na usina entre os
meses de julho e novembro de 2021, os ensaios se iniciaram pela caracterização dos RCDs
selecionados, sendo eles os produtos reciclados conhecidos comercialmente como brita 1, brita
0 e pó de pedra. Para estes materiais, foram realizados testes granulométricos, testes de massa
unitária e massa específica. Com base nos resultados apresentados por essas caracterizações,
foi realizada em duas etapas a concretagem dos blocos e corpos de prova em diferentes taxas
de substituição, seguido pela realização de testes de compressão e abrasão dos produtos
gerados, após períodos de 28 e 60 dias. Estes produtos também foram caracterizados pelas
técnicas de Fluorescência de Raios-X (FRX), Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
acoplado a um Sistema de Energia Dispersiva (EDS) e por testes ambientais com aplicação das
normas ABNT NBR 10004/2004. Como resultado das principais caracterizações realizadas nos
blocos e corpos de prova (traços com 100% de substituição do agregado natural pelo reciclado),
nota-se uma maior resistência à compressão aos 60 dias quando comparada aos 28 dias
indicados pela norma. Aos 60 dias obteve-se um valor muito próximo (34,31 MPa) do indicado
pela norma (35 MPa). Os resultados obtidos pela técnica de FRX nos blocos confeccionados
mostraram a predominância dos óxidos de silício (SiO2), óxido de cálcio (CaO), óxido de
alumínio (Al2O3), óxido de ferro (Fe203), óxido de magnésio (MgO), óxido de enxofre (SO3) e
óxido de potássio (K2O). Os teores obtidos destes elementos estão dentro dos limites
estabelecidos para a composição do concreto. Os testes ambientais de lixiviação (NBR 10005)
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e solubilização (NBR 10006) realizados nos corpos de prova classificaram o resíduo como Não
Perigoso (Anexo F) e Não Inerte (Anexo G), respectivamente. A utilização de agregados
reciclados em substituição aos agregados naturais na produção de concretos possui um grande
potencial. Estudos relacionados ao desempenho dos produtos gerados com esta substituição são
extremamente relevantes, pois trazem segurança e confiança aos profissionais da construção
civil para empregar estes materiais nas obras e, assim, poder contribuir efetivamente com o
meio ambiente e com a sociedade como um todo.