Resumo:
Esta pesquisa foi realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em
Ambiente e Sustentabilidade (PPGAS), da Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul (UERGS), na linha de pesquisa Sociedade, Ambiente e
Desenvolvimento (SAD). Trata-se de um estudo em Memória Política, cujo
objetivo foi explorar e analisar as memórias políticas e subversivas da Vila
Jardim, comunidade do Parque Natural municipal da Ronda (PNMR), a partir
de um estudo transgeracional, pesquisando três gerações de moradores.
Adotamos uma posição política quando decidimos pesquisar as memórias
subversivas da Vila Jardim, dando visibilidade a fatos e narrativas contados em
primeira mão, pela voz de seus moradores. Os referenciais foram ancorados
em Hernandez (2020), Ansara (2008; 2012), Freire (1998; 2001; 2005), Pollak
(1989), Halbwachs (2006), Nora (1993), Thompson (2002), autoras e autores
que embasam a pesquisa em termos teóricos e metodológicos. Os objetivos
específicos foram: a) Identificar os atores sociais envolvidos na construção
histórica da Vila Jardim; b) Analisar a rede que os conecta ao PNMR; c)
Desvelar as percepções que os moradores têm sobre a Vila Jardim e o PNMR.
A pesquisa seguiu uma abordagem qualitativa, de tipo exploratório, descritivo e
analítico. Foram desenvolvidas quatro etapas metodológicas com seus
respectivos fluxos de dados: A primeira etapa visou conhecer a historicidade de
São Francisco de Paula por meio de análise documental. A segunda etapa
consistiu na análise de dados secundários sobre a Vila Jardim e o Parque da
Ronda. A terceira etapa acessou dados primários, mediante entrevistas abertas
pautadas pela História Oral, junto à 1ª e 2ª gerações da família escolhida para
a pesquisa. A quarta etapa analisou os desenhos e representações das
crianças da 3ª geração da família, explorando suas percepções, sentimentos e
significações sobre a Vila Jardim. Os achados foram triangulados e
combinados, buscando recorrências e particularidades históricas e de memória
política sobre a Vila Jardim. Os principais resultados apontam que a 1ª geração
foi fundamental à ocupação do território, resistindo ao estabelecido, buscando
direito à moradia, produzindo memórias subversivas contra a produção de
esquecimentos. A 2ª geração empreendeu lutas comunitárias que produziram
processos de consciência e ação política na Vila Jardim, levando a conquistas
de direitos fundamentais, como o processo de regularização fundiária. A 3ª
geração narra muitas “vilas” em uma só: um lugar que ora se conecta e ora se
separa do Parque Natural Municipal da Ronda, um lugar de paisagem única,
rica em diversidade de fauna e flora, mas que enfrenta o descaso do poder
público e a ausência de políticas públicas.