Resumo:
A criação de espaços protegidos e a manutenção dos recursos naturais, devido à
intensificação da degradação dos ecossistemas naturais, tornam-se essenciais para
a proteção da biodiversidade. Neste contexto, as Unidades de Conservação além de
favorecer a conservação ambiental, trazem diversos benefícios para a sociedade e
contribuem para a manutenção do patrimônio natural e cultural. A participação da
sociedade no processo de criação e gestão dessas áreas é fundamental para o seu
sucesso. Diante disso, a presente pesquisa teve por objetivo geral mapear os sentidos
e saberes com relação ao lugar, produzidos pelos moradores das comunidades da
UC, e a partir disso, investigar e identificar os conflitos presentes durante a
implantação da gestão da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) do Morro
Ferrabraz, Sapiranga (RS). Essa pesquisa se utilizou da abordagem qualitativa. Para
tanto, foi realizada uma análise documental, para compreender o processo histórico,
social, jurídico e político de criação e gestão dessa ARIE, a fim de auxiliar na relação
da comunidade local com o território. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas
com representantes das comunidades locais, a fim de mapear os sentidos produzidos
com relação ao lugar e, a partir disso, identificar os conflitos ambientais existentes. A
análise dos dados se deu por meio da abordagem teórico-metodológica da Produção
de Sentidos. Os conflitos ambientais identificados foram categorizados em conflitos
territoriais, espaciais e os distributivos categorias territoriais e espaciais. A partir do
estudo, os resultados apontam que diversas etapas do processo de implantação da
Unidade de Conservação, foram propulsores para situações conflituosas, como por
exemplo a pouca participação dos moradores no processo de criação da ARIE, a falta
de esclarecimento por parte da comunidade com relação aos aspectos legais que
envolvem as áreas protegidas, bem como, os interesses distintos de determinados
atores sociais, na apropriação e uso do solo e na permanência da agricultura familiar
no Morro Ferrabraz. Dessa forma, através dos sentidos atribuídos ao lugar, verificouse a existência de sentidos afetivos envolvendo os moradores locais e o Morro
Ferrabraz, a partir das relações que se constroem ao longo das vivências e histórias.
Esses sentidos foram divididos em categorias de análise: o Morro Ferrabraz como
lugar de moradia e modo de vida; a Conservação como uma relação de respeito; a
ARIE do Morro Ferrabraz como sentidos em construção em função do ordenamento
territorial; as atividades como sentidos entre a agricultura familiar e atributos de
proteção ambiental e por fim, os conflitos ambientais através dos sentidos que
permeiam estas práticas. A partir da discussão dos resultados, depreendemos que, o
esclarecimento e a aproximação da comunidade local na gestão da Unidade de
Conservação serão de extrema relevância para avanços na resolução dos conflitos
ambientais existentes e, por conseguinte, no processo de elaboração do plano de
manejo.