dc.description.abstract |
A barra do rio Tramandaí é um dos raros cenários no mundo onde há uma mútua interação positiva entre os botos-de-Lahille Tursiops gephyreus Lahille, 1908 (Cetacea: Delphinidae) e os pescadores de tarrafa. Tal atividade, conhecida como pesca cooperativa, é principalmente voltada na captura da tainha Mugil liza. O presente trabalho tem como objetivo analisar dinâmica da pesca de tarrafa com a influência do boto na barra, além de caracterizar a composição das espécies associadas às capturas na pesca de tarrafa. A área de estudo localiza-se na desembocadura do estuário do rio Tramandaí, a qual forma a divisa entre os municípios de Imbé e Tramandaí, litoral norte do Rio Grande do Sul, Brasil. De janeiro de 2020 a janeiro de 2022, a atividade de pesca de tarrafa foi monitorada semanalmente, alternando entre as áreas de Tramandaí, Imbé e ponte Giuseppe Garibaldi. Foram realizados 58 campos e coletadas 696 amostras. Foi possível verificar que a presença do boto coincide com as áreas de maior ocorrência de pescadores na barra, com exceção da ponte, onde há frequentemente pescadores de tarrafa sem a presença do boto. Os botos aumentaram efetivamente a eficiência da pesca, com a redução do esforço de pesca e um aumento no número de capturas de pescado em ambos os municípios. Foi registrado um total de 3400 exemplares dos quais 996 foram realizados a biometria. Trinta espécies foram identificadas de acordo com sua dominância. A espécie-alvo da pesca cooperativa, a tainha, foi dominante nos três locais durante todas as estações, sendo predominante no outono de 2021 (N% = 77%; FO% = 37%), o que revela que a pesca de tarrafa é altamente seletiva nesta região. O tamanho das tainhas também variou conforme a estação do ano, sendo maiores no outono (456 ± 53 mm e 0,990 ± 0,270 kg) e menores no verão (332 ± 58 mm e 0,330 ± 0,150 kg). As demais espécies apresentaram baixas abundâncias e frequências de ocorrência em relação à espécie-alvo, indicando serem espécies ocasionais. O presente trabalho fornece dados atuais sobre a dinâmica da pesca de tarrafa na barra e a importância da utilização responsável dos recursos pesqueiros, o que poderá auxiliar futuros gestores na resolução dos conflitos existentes nessa área. |
|