Lumertz, Jucélia Mesquita; Klein, Ismael Jesus; Berreta, Márcia dos Santos Ramos; Erlo Junior, Alberto Carlos; Guimarães, Carlos Eduardo Bassani; Oliveira, Cássio Adílio Hoffmann; Almeida, Graziane Paim de
Resumo:
O município de São Francisco de Paula é considerado a
porta de entrada dos Campos de Cima da Serra, importante região do planalto norte do estado do Rio Grande
do Sul. Favorecida pela exuberante beleza cênica, sua paisagem
pode ser considerada um patrimônio ambiental e cultural do Bioma
da Mata Atlântica. Seus Campos de Altitude abrigam os banhados,
reconhecidos como um ecossistema particular e que nos fornece
uma grande reserva hídrica superficial. Junto aos campos nativos,
compõe-se um mosaico com as Matas com Araucária, onde o magnífico pinheiro se destaca no cenário compartilhado com a fauna
e os humanos desde o tempo dos povos originários, ora abrigo na
proteção, ora alimento com o pinhão.
Até mesmo a economia se beneficiou dos campos nativos do bioma. Nos últimos três séculos, a Região dos Campos de Cima da
Serra foi ocupada pela pecuária extensiva, com a criação da bovinocultura para o corte. Mas, de fato, foi no saber-fazer do queijo
serrano, que as mulheres, primordialmente, utilizando o leite cru
das vacas de corte, alimentadas a partir de pastagens naturais, produzem um produto de paladar único.
No entanto, novas formas de uso da terra vêm modificando a paisagem do território, ocasionando uma preocupação a manutenção dos
diferentes ecossistemas do Bioma da Mata Atlântica.
O Projeto de Extensão Raízes: São Chico + 20 surge desta inquietação com o futuro da região, mas com o compromisso de, por meio
de um diagnóstico socioeconômico, turístico e ambiental dos distritos rurais de São Francisco de Paula, gerar visibilidade do potencial da agricultura familiar como alternativa ao desenvolvimento do
território.
Durante seis meses no ano de 2022 um grupo de estudantes da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, da Unidade Hortênsias,
fizeram incursões ao rural do município, verdadeiras imersões ao
modo de vida de uma população que se constitui por identidade retratada no território. Doze localidades foram visitadas nos sete distritos. Famílias abriram suas portas para recebê-los. Acompanharam festas religiosas, fizeram trilhas, conheceram empreendimento
familiares, visitaram escolas rurais, capelas e salões comunitários.
Arquitetura, arte, música, escuta de histórias de vidas, gastronomia,
leitura da paisagem, lugares nunca percebidos.
Este livro foi feito por muitas mãos, dos estudantes que percorreram o rural de São Chico, carinhosamente chamado assim pelos
seus moradores. Recortaram das paisagens pequenos retalhos traduzidos em fotografias. Na verdade, elas compõem os lugares, no
que foi permitido pelo tempo conhecer. Por estes fragmentos da
paisagem eles prestam uma homenagem aos agricultores e agricultoras e pecuaristas familiares, que se permitem viver como parte do
bioma, numa terra cuidada, respeitada e que se tornará a casa dos
que os sucederão, assim como foi a dos seus ancestrais.
Viva São Chico! 120 anos de história que ainda está sendo contada.