Resumo:
O corpo é o chão da escrita propõe uma investigação poética que explora as relações entre
ler, escrever e dançar, a partir de uma escrita implicada no corpo — um corp’a’screver. A
pesquisa compreende a palavra como vestígio de uma experiência física e subjetiva, o que
venho chamando de corposteridade — o rastro do corpo na escrita. Desenvolve-se a partir de
diários e fragmentos poéticos produzidos entre 2019 e 2024, conectados em um fluxo
contínuo de transformações entre corpo, escrita e dança. A metodologia adotada é a
cartografia, instaurada ao longo do processo de pesquisa. Nesse contexto, cartografar significa
mergulhar no campo dos afetos (ROLNIK, 2004), um processo contínuo que mapeia não
apenas corpo e escrita, mas também os afetos e as ausências que emergem nesse
entrelaçamento. A pesquisa apoia-se em autores como Marguerite Duras, Maria Gabriela
Llansol, Paul Zumthor e Giorgio Agamben, cujas concepções de linguagem e corpo
influenciam a compreensão da escrita como uma prática performática e física. Além disso, as
experiências vividas nas aulas de tango argentino e práticas somáticas desempenham um
papel central no processo criativo, instigando, por meio de metáforas, o movimento e o
desencontro, que se entrelaçam com as práticas de escrita. A proposição final da pesquisa é a
apresentação de uma composição em dança, que mapeia a memória dos gestos e movimentos
corporais inscritos ao longo desse percurso. A investigação conta também com a colaboração
da artista Luísa Zimmer Ritter, que, ao ocupar os espaços de ensaio com seus desenhos,
contribuiu para a percepção corporal e para o modo como ocupo o espaço.