Resumo:
A pesquisa teve como objetivo pensar sobre as possíveis relações entre cotidiano, burocracia e esgotamento por meio de referências e experiências artísticas que mobilizam, de alguma forma, esses conceitos. A ideia inicial era criar uma burocracia inútil através de atas de situações ordinárias, procedimento chamado de atificação. Porém, ao longo do tempo, o trabalho foi se modificando, o que possibilitou um novo entendimento sobre o fazer artístico em processo. Assim, o foco da pesquisa voltou-se para as Notas de Frequentação, prática na qual criaram-se notas de microacontecimentos cotidianos. Como aporte teórico, foram utilizados Maurice Blanchot (2007) e Michel de Certeau (2014), que investigam algumas definições, implicações e origens do cotidiano; Nuccio Ordine (2016), que pensa sobre a utilidade dos saberes inúteis na contemporaneidade; Georges Perec (2016), Raymond Queneau (1995) e Nathalie Quintane (2004), autores que exploram o cotidiano de diferentes formas através da escrita; os artistas Fernand Deligny, Keith Arnatt, Wolney Fernandes e Rivane Neuenschwander, que produzem práticas artísticas a partir da vida comum; Franz Kafka (2014), o artista Jan Banning e o filme Eu, Daniel Blake (2016), que abordam a presença e os excessos da burocracia; Fabiana Campos Baptista (2015), que fala sobre o “esgotamento da linguagem” conceituado por Gilles Deleuze e, por fim, Vilém Flusser (2010), que reflete sobre a dissolução da materialidade nos nossos tempos. Dessa forma, operou-se com três conceitos que são, por si só, cheios de estigmas negativos, mas que ganharam novas camadas de sentido com as Notas de Frequentação.