Resumo:
Vivenciamos uma crise sucessória no campesinato do Sul do Brasil, sendo que as moças são as principais agentes do êxodo rural. Nesse contexto, precisamos voltar nossa atenção para as jovens camponesas que permanecem no campo e suas estratégias para nele se manterem. Assim, essa pesquisa teve como objetivo geral pesquisar as trajetórias vivenciadas por jovens camponesas no município de Santana do Livramento/RS, buscando assim compreender as diferentes estratégias utilizadas pelas mesmas para permanência no campo. De forma específica, buscamos identificar a diversidade e complexidade que envolve as diferentes trajetórias de vida das jovens; entenderas dificuldades encontradas por elas a partir do lugar de moça camponesa, e compreender as estratégias utilizadas para permanecer no campo. O desenvolvimento desta pesquisa utilizou o método de estudo de caso e a abordagem qualitativa. Foram realizadas entrevistas com sete jovens camponesas, com auxílio de um roteiro de perguntas semi-estruturadas. Essas jovens, que tiveram suas identidades preservadas, utilizando-se de pseudônimos de flores nativas do Bioma Pampa, têm entre dezenove e trinta anos. Percebe-se que as trajetórias de vida das moças se diferenciam bastante, pois além de sistemas de produção diferentes e trabalhos diferentes, estas jovens pertencem a grupos sociais que têm especificidades, como assentados da reforma agrária, quilombolas, pecuaristas familiares. Assim, estudar suas trajetórias e escolhas é uma tarefa envolta em complexidade que exige dedicação e tempo, entretanto necessária. Dessa forma, encaramos esse desafio, pelo menos iniciando a caminhada. Em relação às dificuldades encontradas por essas moças identificamos a necessidade de enfrentar o machismo existente no campo, a falta de reconhecimento do trabalho desenvolvido por elas, a dificuldade de participar da gestão da propriedade e a dificuldade ao acesso à educação. Quanto às estratégias, as moças se valem de vários trabalhos, tanto agrícolas como não agrícolas, para geração de renda, na expectativa de concretizarem seus projetos de vida no campo. É necessário que os órgãos competentes e a sociedade em geral tenham um olhar diferenciado a essas moças camponesas, visando o reconhecimento do seu espaço, invocando respeito, visibilidade, voz e vida mais digna.