Resumo:
As praias arenosas estão continuamente sofrendo modificação, sejam pelas correntes marinhas, marés, ondas, vento, ou mesmo interferências antrópicas, o que exige adaptação constante por parte dos organismos que ali habitam. Outro fator que pode afetar é a Água Continental Subterrânea (ACS), que aflora na faixa de praia, podendo incrementar a concentração de nutrientes nesta região. Entre os consumidores primários presentes na zona costeira marinha destacam-se os organismos bentônicos meiofaunais por serem abundantes e diversificados, especialmente em praias arenosas. Estes habitam os espaços intersticiais do substrato nos ambientes encharcados e por apresentarem um curto ciclo de vida, respondem rapidamente às mudanças do ecossistema, sendo bons indicadores da qualidade ambiental. A falta de conhecimentos sobre a real contribuição das águas subterrâneas para o ecossistema marinho, principalmente em relação ao fornecimento de nutrientes para a zona costeira, foi o grande estímulo para este estudo. Portanto, avaliar a influência da descarga de ACS sobre a meiofauna, considerando áreas com diferente aporte de água continental na zona entremarés foi o objetivo deste trabalho. As áreas de amostragem foram escolhidas de acordo com dados pretéritos de descarga de ACS fornecidos por Rocha (2018), sendo elas Praia de Imbé e Praia de Quintão, ambas no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Foram realizadas dez amostragens durante seis meses com a extração de ACS para a análise de ortofosfato, dureza, nitrogênio amoniacal, cloretos/salinidade, condutividade, pH, temperatura, silicato, ferro total, além da coleta de sedimento, para cloretos, salinidade, clorofila a e granulometria e, ainda, para a meiofauna em seis réplicas aleatórias ao redor do ponto de extração de ACS. Em laboratório, os animais foram extraídos do sedimento pelo método de flotação e quantificados em filo, classe ou ordem. Foram identificados quatro grupos zoológicos, sendo 67,19 % composto por nematódeos, 21,59 % copépodes harpacticóides, 7,82 % turbelários, 0,31 % ácaros e ainda, um quinto grupo não identificado de metazoários, de corpo longo e achatado de aspecto leitoso, que constituiu 3,09 % da totalidade meiofaunal encontrada. Os resultados mostraram um maior número de organismos meiofaunais na praia de Quintão com densidade de 110,23 ind./10 cm², onde o sinal de ACS foi mais evidente no período em questão, contra uma densidade de 61,20 ind./10 cm² em Imbé. Entretanto, outros fatores podem ter contribuído para os resultados, como a morfologia da praia e a ação antrópica. Sendo o primeiro trabalho da região com este enfoque, os dados obtidos certamente servirão de base para futuras pesquisas relacionadas à contribuição da água subterrânea para a produtividade biológica dos sistemas costeiros.