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Este e-book nasce das palavras partilhadas, dos silêncios
escutados e dos afetos tecidos nos Encontros
Formativos Dialógicos realizados comprofessoras dos Anos
Iniciais da Educação Básica, em uma escola municipalde
Alvorada/RS. Ele não é apenas um registro, mas sim um gesto
político epoético de valorização da experiência docente.
As Cartas Pedagógicas aqui reunidas foram escritas pelas
próprias professoras participantes da pesquisa, destinadas
a educadores eeducadoras em início de jornada, como
forma de acolhimento, partilha e fortalecimento coletivo.
Inspiradas na metodologia dos Círculos de Cultura, essas escritas
emergiram como atos de escuta, memória e diálogo,
revelando os saberes que se constroem no chão da escola
— saberes que resistem, quese reinventam, que esperançam.
Dialogar com Paulo Freire é afirmar que ninguém educa
ninguém sozinho, tampouco educa a si mesmo isoladamente.
Educamo-nos juntos, nas tramas de uma prática que
se faz crítica, amorosa e comprometida com a humanização.
Ao optarmos pelo gênero carta, reafirmamos o vínculo entre
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Flaviane Anchieta e Viviane M. Machado Maurente (Organizadoras)
palavra e mundo, entre sujeito e contexto, entre formação e
transformação.
A pedagogia freireana é, antes de tudo, um convite à
escuta que acolhe, ao diálogo que reconhece o outro como
sujeito de saber. É o direito de dizer —mesmo quando historicamente
silenciado — e de ser ouvido com atenção, humildade
e respeito. Como nos lembra Freire, “ninguém liberta
ninguém, ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam
em comunhão” (Freire,2023, p.). Assim, o diálogo é mais do
que um método: é um modo de ser nomundo com o outro,
na horizontalidade das relações e na esperança que sereinventa
a cada encontro.
A escrita epistolar aqui não é apenas um recurso estético,
mas um gesto ético. É a expressão de uma escuta ativa,
de um olhar sensível para osdesafios cotidianos da docência,
de um reconhecimento de que a formaçãodocente não
é um ponto de chegada, mas um percurso em permanenteconstrução.
Cada carta é um convite à reflexão, à partilha e
aopertencimento.
Este e-book é, portanto, um ato de devolução e de continuidade.
Devolve à comunidade educativa os sentidos produzidos
coletivamente e alimenta a chama da formação permanente
como direito, desejo e necessidade. É também um
gesto político de resistência frente às normas hegemônicas
Tecendo histórias, compartilhando saberes: cartas pedagógicas para inspirar a docência
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de formação docente — muitas vezes impostas, fragmentadas
e descoladas da realidade da escola — e um chamado
para que construamos, juntas e juntos, espaços de formação
enraizados no diálogo, na escuta e no afeto.
Neste sentido, este e-book — tecido por cartas, memórias
e afetos — se transforma em uma grande roda de conversa.
Um lugar em que as vozes das professoras se encontram
com as de Paulo Freire em um movimento de escuta e
reinvenção. Pode ser um livro, sim, mas também pode ser
uma sombra de mangueira, um banco de praça, um corredor
de escola. Espaços simples, mas repletos de sentido quando
atravessados pela palavra viva e pelo desejo genuíno de
transformar a educação.
Cada carta aqui escrita carrega em si a marca de uma
existência que ensina e aprende. São registros de uma docência
que resiste, que sofre, que sonha e que não desiste
de acreditar que é possível construir um mundo melhor,
começando pela escola. Como bem diz Freire (1996, p. 84),
“a educação não transforma o mundo. Educação muda as
pessoas. Pessoas transformam o mundo”. E este livro, em
sua tessitura de saberes partilhados, é também um gesto de
transformação.
Boa leitura. Que ela seja também um bom encontro. |
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