Resumo:
A carne suína é um produto de ampla produção e comercialização mundial. No entanto, juntamente com a produção de suínos verifica-se o elevado volume de dejetos líquidos (DLS) gerados, que possuem alto potencial poluidor ao meio ambiente, quando mal geridos. Diante desta problemática, no presente estudo buscou-se avaliar a incidência da contaminação de corpos hídricos em propriedades produtoras de suínos, no noroeste do Rio Grande do Sul. O estudo foi desenvolvido em três propriedades no interior do município de Três Passos, com criação de 1.000 suínos cada, e que utilizam a aplicação dos DLS como forma de fertilização do solo. Inicialmente foi mensurada a geração de dejetos e avaliado o manejo adotado em cada propriedade, bem como as características químicas dos solos nas áreas de aplicação, declividade, cultura plantada e proximidade de corpos d’água. Foram realizadas seis campanhas de coleta e análise das águas superficiais em cada propriedade, após a aplicação dos DLS, sendo três realizadas sem a ocorrência de chuvas e outras três após chuvas. Os dados foram submetidos à análise de variância e teste t, sendo o valor de p <0,05 considerado estatisticamente significativo. Como resultados verificou-se que as três propriedades avaliadas geram volume de dejetos superior à área disponível para aplicação, tendo sido constatados 75, 90 e 80 m³/ha/ano, respectivamente, nas propriedades 1, 2 e 3, enquanto que a recomendação máxima é de 50 m³/ha/ano. Os metais pesados detectados no solo (zinco e cobre) estão em concentrações abaixo dos valores orientadores estipulados pela Resolução CONAMA nº 420/2009 para áreas agrícolas. No entanto, verificaram-se alterações na qualidade da água próximo aos locais de aplicação dos DLS, a exemplo da turbidez nas propriedades de maior declividade do terreno. Outros parâmetros influenciados pela declividade e ainda pela ocorrência de chuvas foram: nitrogênio amoniacal, fósforo, coliformes totais e Escherichia coli, que apesar do acréscimo das concentrações, essas não diferiram estatisticamente das concentrações obtidas sem a ocorrência de chuva. Desta forma, a aplicação dos DLS no solo pode ser uma alternativa para disposição final desses resíduos e de adubação do solo, desde que sejam determinadas as quantidades passíveis de aplicação, e evite-se áreas declivosas e próximas de corpos d’água.