Resumo:
Os pomares frutíferos são ambientes propícios ao estabelecimento de quintais
agroflorestais. Os quintais agroflorestais são sistemas biodiversos tradicionais de produção de
alimentos que têm garantido a segurança nutricional e alimentar, bem como promovido a
sustentabilidade no uso da terra pelos campesinos. São compostos por espécies de diferentes
estratos, com obrigatoriedade da presença de uma lenhosa perene, comumente uma de porte
arbóreo, com ou sem animais. São expressões produtivas onde o processo de produção de
alimentos é resultante da coevolução entre o sistema social e ecológico. O objetivo deste
trabalho foi caracterizar um pomar existente, levantar parâmetros estruturais e financeiros
para refletir sobre o papel destes sistemas à transição agroecológica e na reprodução social
das famílias agricultoras. Para tanto, avaliou-se um pomar frutífero em conversão à um
quintal agroflorestal, visando identificar possibilidades de geração de renda e fortalecimento
da segurança alimentar. O estudo foi desenvolvido em uma propriedade no Assentamento
União Rodeense, município de Santana do Livramento - RS. Aplicou-se um arranjo
metodológico composto por observação participante para descrição da unidade produtiva,
entrevista semiestruturada e caminhada etnobotânica para a análise da estrutura do pomar e
elaboração da análise financeira. Para a mensuração dos índices financeiros foram analisados
2 cenários distintos; um com dados de custos e receitas atuais, do pomar de 10 anos em
produção (C1) e outro com dados pretéritos, desde o momento da implantação (C2). Foram
identificados 8 subsistemas na propriedade que, orientado para a diversificação produtiva, tem
o objetivo de aliar subsistência e geração de renda à família. No pomar foram encontradas 88
árvores de 23 espécies e 12 famílias sendo 12 espécies exóticas e 2 nativas, implantadas há
mais de 10 anos e 9 nativas recém inseridas no pomar. Na análise financeira, o fluxo de caixa
em C1 foi positivo no 2° ano e em C2 no 3° ano. A taxa interna de retorno (TIR) em C1 foi
superior à taxa de desconto em 10 e 20 anos enquanto que em C2 somente em 20 anos, dado
corroborado pela relação benefício/custo (B/C). Em consonância a TIR e B/C, o valor
presente líquido (VPL) foi negativo aos 20 anos para o C2. O payback com foco na
recuperação do investimento, descontado a taxa de juros de 7%, foi de 6 e 8 anos,
respectivamente para C1 e C2. Sendo assim, a argumentação conduzida neste trabalho
defende a ideia de que a inserção de um quintal agroflorestal nas propriedades familiares pode
contribuir às dimensões econômica, social, ecológica e ambiental. Desta forma, promove a
segurança e soberania alimentar, a geração de renda, a produção de alimentos limpos e
consequente autonomia financeira e alimentar; contribui à conservação da biodiversidade e
seus serviços ecossistêmicos associados e fornece uma possibilidade de estimulo à reprodução
social destes agricultores a agricultoras.