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Este estudo tem por objetivo problematizar como a oferta de atendimento educacional para surdos em classes especiais de três cidades da região do Vale de Paranhana pode ter influenciado a formação de comunidades surdas. Contudo, reitera-se que a presente pesquisa constitui-se como possibilidade reflexiva para pensar a educação de surdos, sem a pretensão de impor ou defender a retomada das classes especiais. Da mesma forma, manifesta-se um entendimento em respeito ao direito dos surdos a reivindicar pela educação que desejam para que não se repita, nos tempos presentes, o que aconteceu no Congresso de Milão em 1880. Ao olhar para um recorte temporal no passado da educação de surdos, propõe-se problematizar a partir das incertezas educacionais do presente. A temática escolhida vincula-se a linha de pesquisa “Inovação, diversidade e memória em educação” do Mestrado Profissional da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS). A fundamentação teórica desta pesquisa se dá no campo dos Estudos Surdos e Estudos Culturais numa perspectiva pós-estruturalista com inspirações em Michel Foucault, sobretudo com as práticas de regulação, entre elas, a classe especial, que pode ser analisada enquanto prática de condução dos corpos e de poder sobre a vida. Busca-se aproximação com as noções de governamentalidade e biopolítica (enquanto estratégias de condução das condutas) e a noção de normal/anormal. A metodologia de pesquisa é de cunho qualitativa a partir de estudo de caso múltiplo. O instrumento adotado foi a entrevista semiestruturada, realizada em Língua de Sinais e língua oral, conforme a opção dos sujeitos surdos adultos que relataram suas experiências escolares em classes especiais. Foram coletadas treze entrevistas e, a partir delas, foram organizados três eixos analíticos: a identificação da surdez como marcador identitário; a escola e as aprendizagens; comunidade surda: tempos, espaços e relações estabelecidas. Conclui-se que os dados obtidos fornecem subsídios para se pensar a participação em comunidades surdas, mas pouco permitem evidenciar elementos sobre os processos formativos. Evidenciou-se que enquanto a classe especial esteve ativa, ela se configurou em uma comunidade surda e, após o encerramento das atividades, esta comunidade não se manteve. Ao mesmo tempo, há indícios para pensar a relação entre a frequência na escola de surdos com a participação efetiva na comunidade de surdos. Evidenciou-se ainda que os participantes que seguiram seus estudos em escolas de surdos, participam ativamente de comunidades surdas, ao passo que os participantes que tiveram sua trajetória escolar somente em classe especial de surdos ou em escolas comuns na condição de inclusão em classes de ouvintes, não participam de comunidades surdas. Observa-se também que aqueles que se reconhecem com a identidade surda afirmam participar efetivamente de comunidades surdas. Como produto final, propõe-se a realização de um seminário a fim de compartilhar os conhecimentos produzidos com os participantes, escolas e a comunidade em geral. |
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