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Esta pesquisa, de caráter interpretativo, discute os significados produzidos
pelas crianças sobre a Escola Comunitária de Educação Infantil (ECEI). Neste
sentido, olhar e ouvir o que as elas têm a dizer sobre os espaços escolares, de
modo a revelar o que pensam, sentem, ou mesmo vivenciam sobre a própria
infância, promovem uma pedagogia respaldada nas formas de ser e de se expressar
dos sujeitos infantis. Nesta investigação, a preocupação foi com o processo, por
isso, as escolhas metodológicas procuraram valorizar e tomar as crianças como
sujeitos participantes da pesquisa, qualificando suas vozes e seus olhares. Diante
disso, optou-se, metodologicamente, por uma investigação de viés qualitativo
(Angrosino, 2009), desenhada em uma Etnografia com crianças (Geertz, 1989;
Fonseca; 1998). O campo empírico foi a ECEI, localizada na área territorial do Aterro
Sanitário Municipal, representado emicamente como lixão, no litoral norte gaúcho. A
escolha por esta ECEI emanou das inquietações que caminharam junto à
pesquisadora na sua trajetória acadêmica-profissional por mais de vinte anos.
Destaca-se que durante o estágio de Pedagogia (2002), a pesquisadora teve sua
primeira relação com o espaço e com um grupo de trabalhadores(as), que têm na
coleta de lixo reciclável sua única fonte de renda. Como objetivo, buscou-se
compreender como as crianças de uma turma multietária, com idades entre 3 a 5
anos e 11 meses, que frequentam o agrupamento 2, da Escola Comunitária de
Educação Infantil, localizada na comunidade de catadores de lixo, significam a
escola. Para a produção de informações, optou-se pela observação participante
(Malinowski, 1978; Geertz, 1989; Fonseca, 1998, Cohn, 2005) e diário de campo
(Winkin, 1998). De modo complementar à observação participante e à reflexividade
do diário de campo, foram introduzidas, no tempo do campo, a produção de
fotografias (Gobbi, 2011; Pastore; 2020) realizadas com e pelas crianças. Nos
preceitos teóricos, que fundamentaram esta investigação, buscou-se um diálogo
com diferentes pontos de vista, a fim de aprofundar a discussão na construção do
saber científico, de forma interdisciplinar e participativa, que propõe uma
interlocução entre autores da Sociologia da infância, Antropologia, Filosofia,
Psicologia, História e das Pedagogias da infância e da Educação Infantil, construído
com base no reconhecimento das especificidades que envolvem a investigação
científica com crianças. No debate conceitual sobre os significados produzidos pelas
crianças em contexto, também foi realizada uma interlocução com a perspectiva
Histórico-cultural, a partir da Teoria configuracional, de Norbert Elias (2018). Sob o
ponto de vista das crianças, o estudo apresenta, como primeiro indicativo, que o
elemento fundamental de suas produções de significados está centrado nas
relações entre crianças, crianças e profissionais da educação, crianças e
trabalhadores(as) do ASM. Partindo desse indicativo, interpretou-se que, na
produção dos significados sobre a ECEI, as crianças se envolvem em diferentes
percursos, sendo os mais evidentes os trajetos constituídos em relações
interdependentes do brincar e da amizade, revelando que o fluxo de influências
sociodinâmicas entre elas e entre adultos não impede que as crianças sejam
agentes de suas interações e relações. Ambos são atores sociais nesse processo e,
por isso, as culturas infantis são resultados dessa interdependência. Além disso, as
análises sugerem que suas culturas estão intimamente relacionadas ao contexto, no
qual as crianças estão inseridas, assim como os significados atribuídos a ele.
Depreende-se que as concepções das crianças, suas visões de mundo, devem ser
consideradas nas discussões acerca de contextos educativos. |
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