Resumo:
Dos encontros e rodas de conversas durante uma pesquisa de abordagem qualitativa (Angrosino, 2008) e etnográfica (Geertz, 1989), intitulada "Lá é pouco recreio e muita aula: o processo de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental", com crianças de seis e sete anos, nasce este e-book, como produto Educacional do Mestrado Profissional em Educação, do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (PPGED-MP/ UERGS). A pesquisa teve como objetivo analisar as percepções das crianças a respeito do processo de transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental por intermédio dos seus pontos de vista sobre o tema. A pesquisa buscou acompanhar um grupo 22 de crianças, durante os meses de novembro e dezembro de 2023 na Educação Infantil e nos meses de fevereiro, março, abril, maio e junho de 2024, no Ensino Fundamental. Uma importante transição na vida das crianças, a transição entre ciclos
educativos (Formosinho; Monge; Oliveira-Formosinho, 2016), é a passagem da Educação infantil para o Ensino Fundamental. A Lei Federal no 11.114 (BRASIL, 2005), a partir de uma alteração à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), tornou obrigatória a entrada de crianças com seis anos de idade no Ensino Fundamental. No ano seguinte, a Lei Federal n° 11.274 (BRASIL, 2006) ampliou a duração do Ensino
Fundamental para nove anos, além de rearmar a matrícula das crianças com seis anos nesta etapa da Educação Básica. Portanto, a Educação Infantil passou a compreender a faixa etária de zero aos cinco anos de idade. A Lei Federal no
12.796 (BRASIL, 2013) torna a Educação básica obrigatória desde a Educação Infantil (pré-escola) até o ensino médio para crianças e adolescentes dos quatro aos 17 anos. Assim, as crianças passam a frequentar o Ensino Fundamental mais cedo.
Todas as narrativas, pensamentos e interpretações que compõem este e-book, pertencem as crianças, sobre conceitos relacionados à escola e ao
processo de transição, compartilhados durante rodas de conversas (Garanhani; Alessi, 2022) e dos desenhos comentados (Martins, 2010), ao decorrer da pesquisa e transcritas pela pesquisadora, a partir do diário de campo (Winkin, 1998).
Escolher realizar uma pesquisa com as crianças, compartilhando suas ideias, sentidos e seus signicados, dentro do contexto em que elas fazem
parte, é compreender antes de tudo que “[...] a dimensão ética é uma opção política e deve estar presente em todas as etapas do percurso investigativo desde a concepção, na execução, nas escolhas e nas negociações realizadas no
decorrer do percurso, até a escrita do relatório nal e a divulgação dos resultados” (Tebaldi; Carvalho, 2022, p. 02). Este e-book, convida a todos que se interessam em ouvir as crianças,
que busquem em suas narrativas, reexões capazes de desenhar outras inquietações, e que a partir delas, reverberam novas práticas no convívio com
as crianças. Seus desejos e suas expectativas dizem respeito às suas experiências no viver de suas infâncias, mas essenciais para sugerir sobre o mundo dos adultos. Embora tenha seu foco na temática da transição, as narrativas das
crianças reverberam outros valores inspiradores, como as culturas da infância, as práticas pedagógicas, o processo de aprendizagem, o cotidiano das escolas, entre outros temas presentes na área da educação. Nosso desejo é que, cada leitor, possa ainda se maravilhar com os
pensamentos e interpretações das culturas infantis, sobre conceitos dados como naturais para nós, mas ressignicados através dos olhares sensíveis das crianças.