Resumo:
Este trabalho de conclusão de curso busca apresentar uma poética que é entrelaçada
pela educação e pelo cultivo de alimentos e tem como objetivo cultivar uma pequena
horta em um quintal a partir de práticas de plantio tradicionais, inserindo-as no campo
das artes visuais e da educação contemporânea. O cultivo dos alimentos ocorre em
um terreno localizado ao fundo de uma casa na rua Jorge Guilherme Moojen, Bairro
Progresso, na cidade de Montenegro-RS, e aciona as poéticas visuais como
metodologia de cultivo, gerando ingredientes que servem como alimentos para
refeições coletivas e colaborativas. Com as potências que aconteceram durante a
pesquisa, foi proposta uma oficina de desenho e observação de horta no espaço do
quintal, gerando, assim, um território de aprendizagens em artes visuais com a turma
“Oficina IV” do Curso Básico de Artes Visuais da Fundação Municipal de Artes da
cidade de Montenegro-RS, que tem como orientação a Profª. Ma. Patriciane Born. O
canteiro onde os alimentos são cultivados não segue uma lógica hierárquica entre o
que é plantado. Mesmo havendo canteiros organizados para o plantio das culturas
comestíveis, garante aberturas no solo para plantas que, pejorativamente, são
chamadas de “plantas daninhas”, mas que, aqui, tenho a preferência em denominálas de plantas espontâneas, me aproximando de uma ideia descolonizada de jardim,
em que atuam as autoras Ana Flávia Baldisserotto e Anai G. Vera Britos. Além destas,
outras e outros autores são abordados no decorrer da pesquisa, auxiliando na
promoção de um espaço de multiespécies que se aproxima das práticas de
agrofloresta, agricultura familiar, quilombolas e demais implicações mais extensivas
com a terra. Este projeto de conclusão de curso, assim, refere-se a um espaço que
pretende promover outras lógicas de jardim e de manejo com a terra, pois não sou
agricultor; sou artista e professor e possuo as artes e os saberes que são trocados e
pesquisados durante a investigação como adubo a ser usado de maneira poética, não
para conseguir a melhor safra ou o melhor trabalho de arte, mas para favorecer uma
pesquisa comestível, poética e singular. Minha busca é criar algo que floresça a partir
das sementes plantadas durante a graduação, mas que não segue uma lógica de
mercado baseada na destruição das relações vegetais e não vegetais e que se
distancia das gôndolas dos supermercados, que são pulverizados pelos bairros da
cidade. Pretendo, mesmo que em uma menor escala, criar um “Bem Viver”, conforme
Alberto Acosta, em que me proponho a voltar aos saberes que escaparam, desviaram
e sobrevivem apesar de e, assim, sonhar outras existências, tendo arte, educação e
comida como coisas que nos unem, nem que seja pelo tempo de compartilhar uma
refeição, para que, com isso, podermos sonhar a “Terra do bem virá”, como inventam
Alejandro Reyes e Joelson Ferreira.